Transfer Portal – de facilitador do processo a arma de recrutamento

by Guilherme Spinelli

Imagine a NFL sem free agency, o nosso futebol sem transferência. Assim era o College Football até 2018. Logo após o recrutamento da High School, o atleta se via dentro de uma faculdade durante os próximos 4 anos, independente da posição do depth chart, relação com o técnico ou qualquer outra coisa que ocorresse durante o período. Lembrando que os técnicos no universitário não costumam ser softs, vide todas as histórias que apareceram de Urban Meyer em seu único ano de NFL. Costuma ser muito mais fácil ser rígido com garotos de 17/18 anos do que com estrelas consolidadas na liga mais lucrativa do mundo.

Até 2018, caso o jogador quisesse se transferir para outra universidade, ele precisaria da autorização do seu próprio técnico para contactar outras escolas em que ele estivesse interessado. Caso houvesse a negatividade de seu Head Coach, havia uma série de pessoas que teriam de dar sua aprovação para que a transferência ocorresse. Com isso, a transferência entre escolas sempre foi relacionada a “garotos-problema”, jogadores que tiveram algum problema com a polícia, como Cam Newton, dificuldade com notas, como OJ Simpson.

No caso do ex-jogador do Carolina Panthers, Newton foi originalmente recrutado pela Universidade da Flórida. Os Gators, à época comandados por Urban Meyer, eram o time a ser batido, visto que Alabama começava a era Nick Saban em 2007. Cam Newton logo ganhou a vaga para ser reserva de Tim Tebow, que ganharia o Heisman no mesmo ano. Em 2008, Newton se lesionou e teve uma temporada de redshirt. No mesmo ano, Newton esteve na situação mais delicada de sua vida, sendo preso por estar em posse de um laptop roubado. Com a situação delicada frente a polícia e a universidade, Newton se transfere para uma Junior College (JUCO), onde, por ser uma mudança de divisão, lhe é concedida a elegibilidade imediata. Com isso, joga e é campeão ao nível das JUCO, se transfere para Auburn e o resto, é história.

Já O.J. Simpson cai num caso histórico no College Football, a dificuldade acadêmica. Essa dificuldade acadêmica está bem registrada em filmes clássicos em que o esporte é plano de fundo, como Rudy e Um sonho possível. Simpson, devido às más notas, começou em uma JUCO, melhorou suas notas e ingressou em USC, onde teve uma carreira de sucesso.

A última década

Na última década, as transferências ficaram mais frequentes. Baker Mayfield, em 2014, solicitou transferência de Texas Tech para Oklahoma sem consultar nenhuma das duas Coaching Staffs. Baker na época tentou se apoiar em uma regra da NCAA em que jogadores sem bolsa (walk-ons) não precisam solicitar transferência, perdeu a apelação. No final, se transferiu para Oklahoma, mas teve que ficar em um ano de redshirt durante a temporada 2014, começando sua história nos Sooners em 2015. Normalmente, até a existência do Portal de Transferências, a grande maioria dos atletas sentavam um ano como “punição” a transferência.

Em 2018, a NCAA criou o transfer portal a fim de facilitar o processo de transferências, digitalizando o processo, tornando esse processo de chegadas e saídas um grande ebay do esporte universitário. O jogador não tem a necessidade de falar com seu técnico ou alguém da comissão. Apenas precisa solicitar a alguém do setor administrativo da faculdade colocar seu nome no portal. E isso não significa que o jogador vá sair da Universidade, podendo colocar seu nome no portal, e, entendendo que não há grande interesse, voltar para sua escola originária.

Mais uma mudança das regras

No mesmo ano, a NCAA mudou as regras para não haver necessidade do jogador perder um ano no banco da nova escola, caso o atleta demonstre situações que fujam do controle e impacte diretamente sua saúde mental, física e o bem-estar do mesmo. Foi nessa regra que o advogado Thomas Mars se baseou para conseguir elegibilidade imediata a alguns jogadores, incluindo Justin Fields e Shea Patterson. Fields, por conta de comentários racistas do jogador de beisebol Adam Sasser, teve elegibilidade imediata concedida. Já Patterson e outros jogadores de Ole Miss conseguiram elegibilidade imediata devido às punições que os Rebels tiveram devido a algumas violações, punições que envolviam a inelegibilidade para jogar Bowls.

Em 2020, a NCAA cedeu um ano extra de elegibilidade devido à pandemia. O que permitiu a criação dos Super Seniors, jogadores que já estavam no seu ano de Senior no ano de 2020 e jogaram em 2021, caso de Kenny Pickett. Em 2021, a NCAA finalmente liberou uma transferência livre por jogador. Meses depois a NIL foi aprovada, podendo o jogador lucrar com seu nome e imagem, antes proibido. Essas duas mudanças em conjunto terão uma mudança profunda em como os jogadores se comportam, mudando do escolher a melhor opção a longo prazo para o quem paga mais.

Money, money, money

Dois casos interessantes dos últimos meses são o de Quinn Ewers e Jordan Addison. O rumor é que Ewers recebeu 4 milhões de dólares para jogar pelos Longhorns na próxima temporada, inclusive nos últimos meses já está desfilando com sua Aston Martin Laranja em Austin. Já Jordan Addison deixou Pittsburgh cercado de muitas polêmicas e idas e vindas. O acordo pela sua imagem e nome é de 3,5 milhões de dólares.

Como referência, George Pickens, escolha de segundo round dos Steelers, receberá cerca de 1,2 milhões de dólares no primeiro ano do contrato de calouro. Com isso, o recrutamento não apenas é feito quando os jogadores saem do ensino médio e sim um processo muito mais amplo, que envolve um tipo de front office muito mais parecido com o da NFL. Já que agora você precisa fazer scout também dos jogadores da FBS e FCS que podem reforçar o seu time em caso de entrarem no transfer portal. Na última semana, Auburn contratou o ex-scout dos Cowboys, Drew Fabianich como general manager do programa de futebol americano. Essa é uma mudança muito relevante, as estruturas mudaram e quem se adaptar melhor a se novo sistema tem tudo pra largar na frente nos próximos anos do college football.

 

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