Como o Draft levantou os Eagles para o Super Bowl

by João Gabriel Gelli

Nos últimos anos, ficou popularizada a estratégia do “all-in” para montar o elenco. Isto veio por conta do sucesso de times como os Rams e os Saints. No entanto, isto não significa que um time precisa sacrificar o futuro em prol de um título. O Philadelphia Eagles dos últimos anos é um grande exemplo disso e o Super Bowl LVII pode sacramentar o excelente processo de reconstrução capitaneado por Howie Roseman.

Esta caminhada teve alguns passos, com a substituição do QB titular e do treinador, uma aposta que deu certo como novo quarterback, boas escolhas de Draft e agressividade em trocas. Assim, os Eagles montaram um dos melhores elencos da NFL e de forma sustentável, com boas opções para o futuro.

O quarterback

Como sempre na NFL, tudo começa pelo QB. Nesse ponto, Roseman teve bastante estrela. Ele viu o começo da queda de produção e selecionou Jalen Hurts na segunda rodada do Draft de 2020. A escolha foi muito criticada na época por ser considerada um desperdício de recursos. Contudo, sem ela os Eagles não estariam onde estão no momento.

Hurts evoluiu muito ao longo das temporadas. Saiu de um reserva que teve poucos snaps em 2020 para um titular mediano em 2021 para um legítimo candidato a MVP em 2022. Seu salto esteve acompanhado do trabalho do treinador Nick Sirianni, da confiança do front office e das movimentações para fortalecer o elenco.

O Draft

Grande parte dessas movimentações vieram a partir do Draft. No elenco atual, os Eagles têm poucos jogadores importantes que não foram adquiridos a partir de escolhas de Draft, seja pelo recrutamento em si ou por trocas. Estes são exceções como Javon Hargrave, James Bradberry e Haason Reddick. Outros são escolhas de Draft mais antigas da própria equipe, como Jason Kelce, Lane Johnson, Isaac Seumalo, Fletcher Cox e Brandon Graham. Estes nomes são pilares de liderança na franquia e estavam presentes no último título.

Pensando em escolhas de Draft recentes, surgem outros jogadores de contribuições relevantes. No ataque, Devonta Smith foi um dos melhores recebedores da liga em 2022, Dallas Goedert está entre os principais TEs da NFL nos últimos anos, Miles Sanders teve um ano muito bom e tem bons complementos no backfield, como Kenneth Gainwell. Além disso, a OL tem um processo de renovação em andamento, com Landon Dickerson e Jordan Mailata como titulares e outros jogadores jovens no banco.

Defensivamente, Josh Sweat teve seu melhor ano até agora, com 11 sacks e o calouro de primeira rodada Jordan Davis teve papel relevante na defesa contra corrida. Além deles, os não-draftados TJ Edwards e Reed Blakenship tiveram papéis importantes na unidade. O primeiro jogou quase todos os snaps e se tornou um pilar no meio do campo, enquanto o segundo ganhou espaço na reta final da temporada.

As trocas

Por mais que o time tenha conseguido sucesso com boas decisões no Draft e na Free Agency, algumas trocas foram muito importantes na formação desse elenco. A primeira delas veio quando o time enviou Carson Wentz para os Colts e conseguiu uma escolha de primeira rodada em retorno. No Draft de 2022, esta escolha foi enviada junto com a escolha original do time para os Saints e rendeu uma outra escolha em 2022 e uma nova primeira rodada em 2023, que se tornou a décima seleção geral.

A escolha de 2022 foi trocada junto com uma terceira rodada por AJ Brown, que teve um excelente ano, com seleções para o Pro Bowl e o segundo time All-Pro. Ele formou uma ótima dupla com Devonta Smith e os dois ajudaram a elevar o nível de Hurts.

Outra troca importante aconteceu ainda em 2020, quando Roseman aproveitou que Darius Slay estava insatisfeito em Detroit e que o então HC Matt Patricia não apreciava o jogador. A secundária foi ainda mais reforçada em 2022, com a contratação de Bradberry como free agent e a troca por CJ Gardner-Johnson. Isto formou um excelente trio na secundária, que é fundamental para o sucesso defensivo da equipe.

Até o quarterback reserva, Gardner Minshew, foi adquirido em uma troca e fez um trabalho decente quando precisou entrar em campo. Por fim, a última aquisição da equipe foi Robert Quinn, que chegou no meio da temporada em 2022. Entretanto, ele se lesionou e não conseguiu um espaço relevante na rotação de pass rushers da equipe.

O futuro

Tudo isto mostra a capacidade de Roseman enxergar a situação, mapear a força do seu time e atacar oportunidades de maneira agressiva. A grande questão é que ele fez isso sem prejudicar o futuro.

Os Eagles não perderam escolhas de primeira rodada nos próximos anos. Muito pelo contrário. Terão duas no Draft de abril, sendo uma delas no top 10. Isto era especialmente relevante considerando que no início da temporada não existia certeza de que Hurts daria o salto que deu. Com isso, Roseman construiu flexibilidade para o futuro e agora tem ainda mais opções.

Além disso, boa parte do elenco é jovem ou está sob contrato para o futuro. Até para peças mais envelhecidas já existem planos de reposição. Tudo indica que Cam Jurgens foi draftado em 2022 para ser o sucessor de Kelce com o aval do próprio. Jordan Davis pode ser visto como o substituto de Fletcher Cox a longo prazo.

Talvez a maior questão a ser respondida é a folha salarial, que precisará de algumas manobras. A secundária tem muitos jogadores em fim de contrato e também necessitará de cuidados. De qualquer forma, é louvável como se deu o processo de ser campeão em 2017, desconstruir e reerguer o time para um novo Super Bowl na temporada de 2022. É fácil apontar os Eagles como um dos times mais organizados e bem comandados da liga e esta trajetória apenas reforça este argumento. Agora é aguardar se o resultado será um novo troféu e quais serão os próximos passos da franquia.

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