Análise dos problemas no ataque do New England Patriots

by Claudinei Junior

Nem tudo ao céu e nem tudo ao inferno: muitos torcedores do New England Patriots ficaram desesperados após mais uma derrota da equipe, nesta semana contra o San Francisco 49ers. É claro, é preciso sim ligar um alerta, pois são três reveses seguidos e alguns fatores contribuem para a má fase do time.

Não há um ponto principal que seja culpado pelas atuações ruins, são na verdade um conjunto de fatores que não funcionaram como nas primeiras semanas e que emperraram o sistema ofensivo.

Vamos debater agora quais são os principais pontos negativos do ataque nessas últimas semanas.

Preparação para os jogos

Na minha visão, a preparação para os jogos nas últimas semanas foram um dos principais pontos que atrapalharam a equipe. Chiefs, Broncos e 49ers, essas derrotas ocorreram em um período muito complicado para a equipe que sofreu com casos de Covid-19 e falta de treinos.

Isso explica as últimas derrotas? Não. A falta de ritmo por causa dos poucos treinos influenciam sim na performance da equipe, mas muitos erros que vimos, contra o 49ers por exemplo, não foram por conta disso já que a equipe na última semana voltou aos treinos normalmente.

Claro, quando você tem um time com um QB que chegou tarde na offseason, teve treinos presenciais limitados no training camp, está se adaptando aos novos companheiros e ao sistema, isso influencia no processo de entrosamento e cada semana é crucial para o desenvolvimento.

Esses últimos dias foram atípicas em uma temporada normal e nenhuma equipe se prepara para isso. Mas, não se pode colocar a culpa das últimas atuações do ataque apenas em cima disso, há outros fatores que fizeram o setor ofensivo cair de produção.

Performance de Cam Newton

Esse mês foi muito complicado para Cam Newton. Além de ter pego a Covid-19, fez pouquíssimos treinos com a equipe e praticamente só esteve em campo para jogar. Isso impactou em seu desempenho que está criando mais química com o sistema e os jogadores ao redor.

Depois de citar isso, temos que falar que o camisa 1 fez duas partidas bem ruins contra Broncos e 49ers. A questão da preparação que falei acima tem que ser levado em conta, mas há outros motivos além disso.

Primeiro, leitura de jogo. Newton tem errado muitas leituras e tomado decisões erradas. Sabemos que os recebedores não são uma maravilha, mas muito das críticas que estão fazendo sobre o grupo, na verdade são erros do QB. Abaixo temos vídeos disso.

Na jogada acima, a primeira leitura de Cam é na rota de Julian Edelman, que sai do slot, corta para dentro e depois volta em direção a sideline. Mesmo com a boa marcação do LB Fred Warner, o QB hesita em lançar a bola, segura e depois corre para ganhar poucas jardas.

N’Keal Harry faz uma rota skinny post e tem muito espaço, mas Newton não olha o jogador  que está praticamente na frente da rota de Edelman.

Agora, um play-action, Newton tem as rotas longas bem marcadas e tem Dalton Keene e Damien Harris como check down. O camisa 1 segura a bola por 3 segundos, não faz o passe e precisa se livrar da bola para não ser sackado. Era apenas uma primeira descida e Cam não lança no fundo e nem nos recebedores que estão livres para garantir algumas jardas.

Segundo ponto é a mecânica. Newton nunca teve um movimento limpo e sempre teve problemas ao fazer alguns passes. Nas primeiras semanas, o QB mostrou que trabalhou nisso e conseguiu fazer bons lançamentos, mostrando uma melhora nesse sentido.

Porém, nos dois últimos jogos Cam mostrou uma regressão, com uma base mais instável e fazendo mais força do que o normal para passar.

Na jogada acima, o passe é para Byrd numa 3rd para 5. Newton não faz o trabalho de pés e quadril correto, lança muito curto e sem nenhuma precisão. Ele tinha tempo no pocket para fazer o movimento correto.

Problema com os recebedores

Em uma crise se você não faz parte da solução, então faz parte do problema. Essa é a definição para os recebedores dos Patriots. Apesar das críticas sobre o setor, algumas têm sido exageradas.

Muitos reclamam que os jogadores não criam separação, mas, na verdade este não é o problema principal. Na tabela abaixo, do NextGen Stats, temos a média de separação que os recebedores tiveram quando foram alvos em um lançamento.

A média da liga é de 2.85 jardas, a maioria esteve abaixo da média, mas eram janelas possíveis para receber um passe. Quando pegamos o ALL 22 vemos que o problema, na verdade, não é só a separação e sim falta de improvisação e sintonia com o QB.

 

Falta confiança de Cam nos recebedores, os jogadores não conseguem criar grandes separações, não produzem após a recepção e falta entrosamento com o camisa 1. Edelman, por exemplo, só teve um grande jogo na temporada que foi contra o Seahawks, de lá pra cá, não recebeu mais de 3 passes e 50 jardas em nenhum dos jogos.

Abaixo vemos uma jogada que demonstra bem isso. Patriots está num empty formation, a leitura de Cam é em Edelman no slot. o WR tem uma rota option, de acordo com a posição do seu marcador ele vai ir para dentro, fora ou parar em um determinado local. Essa é uma jogada que Julian cansou de fazer com Brady e precisa de muito entrosamento.

O camisa 11 percebe o espaço na frente do LB, então para e espera o passe. Cam faz a progressão da leitura e quando vira para o recebedor, Edelman corta para dentro e o QB não percebe e faz o passe atrás. A antecipação não acontece, ocorre um drop e mais uma interceptação.

Erros da comissão técnica

Antes, não é preciso dizer que Bill Belichick e Josh McDaniels sabem mais de futebol americano do que eu que estou escrevendo e você que está lendo. Porém, como seres humanos também cometem erros e precisamos falar disso.

Primeiro, as jogadas e os conceitos chamados para o ataque são bons e é um dos poucos pontos positivos junto com o jogo terrestre. O problema que quero chamar a atenção é a utilização dos jogadores, a forma como tem usado não está dando resultado.

N’Keal Harry não será um WR de elite na NFL, mas ele não é o cara para ficar isolado contra um CB em rotas longas e verticais. Sua característica é em rotas mais curtas e trabalhar após a recepção, assim que vimos no College.

Ryan Izzo é um cara para complementar o elenco, sabe bloquear e recebe alguns passes, mas ele não pode ser o seu TE #1 e esperar que terá 5 recepções por jogo e 100 jardas.

Jakobi Meyers não é o melhor jogador do mundo, mas tem produzido quando acionado. O mesmo vale para o RB Damien Harris que tem conseguido pelo menos 5 jardas toda vez que toca na bola, precisa de mais carregadas.

O personnel precisa ser mais variado. No domingo, o 21 foi um dos mais utilizado e  quando era necessário ganhar muitas jardas para o first down, McDaniels espalha os recebedores em empty e em quase todas as tentativas não deram certo. É preciso usar mais shifts e motion nas formações, no ano passado a equipe usou em 64,4% dos snaps, neste ano somente 47,2%.

 

Em resumo, os problemas de preparação para os jogos interferiram sim, mas não se pode colocar a culpa somente nisso. Cam Newton tem que jogar melhor, ler o que acontece em campo e ter mais precisão nos passes. Os recebedores não são a melhor coisa do mundo, podem jogar melhor se forem mais bem explorados pela comissão técnica.

Não adianta a torcida achar que uma troca vai resolver o problema do ataque, são vários os fatores que estão interferindo. Belichick e McDaniels terão que fazer aquilo que sabem fazer de melhor para melhorar o setor ofensivo, ajustes. E dessa vez, não tem Brady para encobrir as carências.

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