Se o histórico do Draft nos diz algo é para não garantir Trevor Lawrence como #1 overall

by Felipe Vieira

Ano após ano temos a mesma história se repetindo. “Ano que vem a classe é melhor do que essa” ou “se eu fosse o time X, eu esperaria até o ano que vem que teremos uma classe diferenciada para escolher quarterbacks”. Para 2021, essa história fica ainda mais forte pois temos Trevor Lawrence, o prospecto mais comentado desde Andrew Luck. Lawrence virou titular ainda sendo um true freshman e levou Clemson ao título nacional em 2018 e chegou novamente na final em 2019, perdendo o bicampeonato para LSU de Joe Burrow. Hoje, é quase unanimidade que o Mr. Sunshine seja a primeira escolha geral, mas a história nos diz para frearmos a empolgação e esperarmos a temporada terminar para afirmarmos isso, afinal, Tua Tagovailoa era a garantia de ser o primeiro quarterback de 2020 (Joe Burrow apareceu), Justin Herbert em 2019 (retornou para o Senior year), Sam Darnold em 2018, Deshaun Watson em 2017, Christian Hackenberg em 2016 (!) e a lista continua.

Nunca me esqueço quando no final do Draft de 2013 e diziam que a classe de quarterbacks de 2014 seria espetacular e que poderíamos ver nove quarterbacks saindo na primeira rodada, deixando a classe lendária de 1983 para trás. Entre os nove quarterbacks citados, estavam: Teddy Bridgewater, Aaron Murray, Johnny Manziel, A.J. McCarron, Tajh Boyd, Zach Mettenberger, Braxton Miller, Marcus Mariota, Derek Carr e Brett Hundley. Blake Bortles acabou sendo o primeiro quarterback escolhido e tivemos apenas três na primeira rodada. Se olharmos bem na década, apenas Andrew Luck era o QB1 da classe antes de começar a temporada e se concretizou sendo o primeiro a ser escolhido. Obviamente, Trevor Lawrence está muito mais perto de Luck do que muitos desses quarterbacks citados sequer estiveram em algum momento da carreira, mas a garantia não existe e o mais importante, ele terá competição para a classe de 2021.

Na classe de recrutas para o College, Trevor Lawrence foi um prospecto 5 estrelas com uma das mais altas notas para quarterback dos últimos anos, mas Justin Fields vinha logo atrás com nota bastante similar e o segundo melhor prospecto da nação. Ambos são do estado de Georgia e apesar de infelizmente nunca terem se enfrentado no ensino médio, as escolas se separavam por apenas 35 quilômetros. No Elite 11, evento onde reúnem os principais quarterbacks seniores do high school, Lawrence e Fields disputaram contra pela primeira vez e quem saiu vitorioso foi Justin Fields.

Um ano depois e podemos dizer que Trevor Lawrence saiu vitorioso na primeira temporada como jogador universitário sagrando-se campeão nacional enquanto Justin Fields ainda era reserva de Jake Fromm em Georgia. Com a decepção de não ter sido o titular em Georgia, Fields transferiu-se para Ohio State onde ganhou a vaga de titular e teve uma temporada com 51 touchdowns totais e apenas 3 interceptações, levando Ohio State para os playoffs e novamente encontrou-se com Trevor Lawrence na semi-final.

Naquela partida fantástica, Fields ficou próximo da vitória mas acabou sendo interceptado no último lance da partida em uma jogada que deveria ter sido touchdown caso o wide receiver Chris Olave tivesse feito a leitura correta e corrido a rota certa. Olave não cortou para o meio como deveria e a bola caiu no colo do defensor de Clemson selando a vitória dos Tigers e garantindo uma vaga na final contra LSU.

No início da temporada de 2019, era esperado que Lawrence fizesse um salto em comparação com a temporada passada e já se tornasse um jogador completamente dominante, mas o que vimos foi um passo para trás de Sunshine. Nos primeiros sete jogos da temporada, ele completou apenas 57 de 120 passes tentados que resultou para 929 jardas aéreas, nove touchdowns e sete interceptações em partidas tranquilas na ACC. Uma regressão que muitos torcedores se recusaram a acreditar. Talvez os longos e sedosos fios loiros tenham enfeitiçado algumas pessoas, mas o fato é que houve sim essa regressão, enquanto Fields conseguiu começar o seu talento para o mundo. Outra estatística interessante é que enquanto Lawrence teve em média 30,3 pontos a cada 100 dropbacks, Fields superou tendo 39,9 pontos por 100 dropbacks. E se de um lado temos o argumento do ataque de Ohio State ser mais agressivo, do outro teremos o calendário mais facilitado de Clemson.

Números para reforçar o argumento

Apesar de ainda parecer um adolescente, Fields já possui altura e peso suficiente para jogar na NFL em alto nível. Sua força no braço também já provou ser mais do que capaz para ser uma primeira escolha geral do Draft. Sete porcento de todos seus lançamentos foram entre 10 e 20 jardas e por fora dos números quando a bola esteve na hash oposta, ou seja, demonstra força suficiente para colocar em distâncias longas e o mais importante, com boa velocidade.

Em bolas longas, a história não é diferente. Entre os quarterbacks com pelo menos 100 tentativas, Fields terminou a temporada de 2019 ranqueado em 21º em porcentagem de passes longos completados e 19º em bolas recepcionáveis. Usando a métrica Passing Plus/Minus, Fields completou 10,1% mais passes do que se esperava baseado em profundidade de lançamento e localização, a quarta melhor marca na temporada passada. Para exemplo de comparação, Lawrence ficou em 19º (+5,4%).

Também não preciso ficar aqui levantando a bola de Sunshine e provando pra vocês o quão bom ele é e que também mostra todo potencial para ser a primeira escolha geral em 2021.  Dito tudo isso, seria extremamente irresponsável de minha parte falar pra vocês qual dos dois quarterbacks será o primeiro da classe de 2021. A única certeza que há nesse momento é que a jornada até o dia 29 de abril de 2021 será extremamente empolgante e ela começa agora no On The Clock.

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