O drama dos treinadores que trocaram o College pela NFL

by Claudinei Junior

A história dos treinadores universitários que fizeram a transição para o cargos principal na NFL é uma montanha russa de altos e baixos. Entre os principais, temos casos de sucesso como Tom Coughlin, Jimmy Johnson, Jim Harbaugh, Pete Carroll e nas antigas com Paul Brown.

Porém, também há nomes que deixaram o College rumo ao profissional que não tiveram o mesmo destino, como Nick Saban, um dos mais renomados e que é considerado um dos maiores treinadores que o futebol americano já viu. Além dele, há inúmeros outros casos e, nos últimos anos, parece que essa transição tem sido mais complicada.

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Quando vemos a passagem de Urban Meyer pelo  Jacksonville Jaguars, deixa  claro que até mesmo um cara vitorioso como ele é, vencedor de três campeonatos nacionais e um recorde de 187-32, enfrentou muita dificuldade em se adaptar em um mundo bem diferente do que estava acostumado.

Mas o que tem dificultado nessa mudança do universitário para a NFL? Qual os fatores que contribuem para isso? Quais as principais diferenças? É isso que vamos analisar agora.

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Histórico recente

Desde o começo deste século, 12 treinadores foram contratados para HC na NFL diretamente do College, segundo uma pesquisa da ESPN. Eles são:

  • Butch Davis, Cleveland Browns 24-35
  • Steve Spurrier, Seleção de Futebol de Washington, 12-20
  • Nick Saban, Miami Dolphins 15-17
  • Bobby Petrino, Atlanta Falcons 3-10
  • Jim Harbaugh, San Francisco 49ers 44-19-1
  • Greg Schiano, Tampa Bay Buccaneers 11-21
  • Doug Marrone, Buffalo Bills 15-17
  • Chip Kelly, Philadelphia Eagles 26-21
  • Bill O’Brien, Houston Texans 52-48
  • Kliff Kingsbury*, Arizona Cardinals 23-20-1
  • Matt Rhule*, Carolina Panthers 10-19
  • Urban Meyer, Jacksonville Jaguars 2-11

Observando a lista, vemos uma alta quantidade de quem não durou mais do que duas temporadas. Já Petrino e Meyer, saíram sem completar um ano.

Os únicos que tiveram algum tipo de sucesso na liga, em termos de classificar para os playoffs e disputar título, foram Harbaugh, Davis, O’Brien e Kelly. O primeiro foi o mais bem sucedido de todos, com aproveitamento 69,5%, três ida aos playoffs e uma disupta de Super Bowl. O HC Butch Davis passou por Cleveland de 2001 a 2004, chegou a ir aos playoffs em 2002, mas caiu ainda no primeiro round.

Já os mais recentes O’Brien e Kelly tiveram historias diferentes, mas, com o mesmo destino. Bill teve um bom início em Houston, sendo campeão 4 vezes da divisão em 6 anos. Porém, ao acumular também o cargo de GM, começou uma série de confusões com trocas desastrosas. Foi demitido no começo de 2020 e retornou ao College para ser OC em Alabama.

O ex treinador de Oregon, Chip Kelly chegou a Philadelphia prometendo revolucionar em campo, porém, as novidades não duraram por muito tempo. Também com várias escolhas duvidosas, ele saiu em 2015, chegou a treinar San Francisco em 2016, porém, retornou ao universitário após dois anos para ser HC em UCLA.

Ainda temos Kingsbury e Rhule, que continuam ativos. Ambos já foram muito criticados desde o começo na liga. O treinador de Arizona, pelo menos, tem conseguido fazer um bom ano em 2021 e os playoffs parecem certo. Porém, sua capacidade de tomar de decisões continuam sendo um ponto fraco. Já Rhule vive uma situação muito diferente dos tempos de Baylor. Os resultados em dois anos não foram satisfatórios e a torcida ainda pega no pé do treinador pela escolha de Sam Darnold para ser seu QB. O ano de 2022 deve ser o decisivo nesta passagem dele.

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Principais fatores e diferenças

Logicamente, não existe uma fórmula certa para saber se alguém dará certo na NFL ou não, até porque, se tivesse, os times seriam os primeiros a usar. Tudo depende de contexto e situação. Alguns caem em locais mais favoráveis ou não, já outros, mesmo em bons ambientes, não conseguem se adaptar ao novo mundo que decidiram entrar.

Entretanto, há alguns pontos em comum nesses casos:

  • Gerenciamento

O principal papel de um HC na NFL é gerenciar o elenco e tomar decisões. A questão da gestão é muito diferente em relação ao College. Primeiramente, em um time profissional, você tem mais gente que para delegar certas funções. Mesmo os time tendo um dono, as franquias, em maioria, têm funções muito bem distribuídas e há pouca centralização em uma única pessoa.

Já no universitário, a estrutura é diferente. A centralização de poder muitas vezes é direcionada ao treinador, que fica responsável por praticamente toda a área esportiva, desde do campo até o recrutamento. Muitos dos mais bem sucedidos no cargo, como Saban e Meyer, tem esse tipo de característica e isso pode ser algo que influência diretamente na carreira vitoriosa deles.

Porém, esse tipo de função é raro em uma equipe na NFL, apenas Bill Belichick tem tanta influencia assim e só tem porque deu resultado em New England logo no começo.

  • Radicalização

Se existe algum caminho para o fracasso na NFL é seguir pela radicalização, em qualquer setor. Um dos maiores erros é tentar fazer com que a liga se adapte a você e não o contrario. Transformações a nível profissional, desde táticas, técnicas e físicas, ocorrem de maneira bem mais lenta do que na NCAA e muito mais ainda do que no High School.

Como falei lá em cima, Kelly foi um que chegou e quis alterar tudo. Desde um sistema ofensivo mais rápido com muito no huddle até a priorização de jogadores que atuaram com ele em Oregon. Já Kingsbury, por exemplo, é um cara que está empregando o Air Raid na liga, mas, muitas vezes essa filosofia o atrapalha em algumas decisões por optar passar demais a bola.

A NFL é um local onde o equilíbrio impera. Se você usar algo em excesso, em algum momento vão encontrar um jeito de te anular e, se não tiver um plano B, provavelmente você não terá sucesso.

  • Experiência

Outro ponto que, para mim, importa muito. Pessoas que já estão dentro de um ambiente tem mais chances de arrumar soluções e lidar com problemas daquele local. Caras como Jimmy Johnson e Pete Carroll já passaram por quase todos os cargos de uma comissão técnica ou tido experiência na NFL antes de voltarem para liga e terem sucesso.

Experiência tanto de vida, quanto de outros cargos e ter trabalhado na liga faz muita diferença quando você é HC de alguma franquia.  Esse foi um dos principais motivos que me gerava dúvida sobre Urban Meyer. Ele já teve contato com quase tudo no futebol americano, em diferentes níveis, mas, ainda não havia tido um trabalho na NFL e isso conta muito.

Treinadores mais jovens estão sendo mais procurados pelas equipes, porém, na mesma proporção, também são os que mais tem falhado pela falta de boa decisões e saber lidar com as mais diversas adversidades. A exceção é Sean McVay, mas, que não deve ser considerado por dois motivos: ele é um prodígio e passou quase toda a sua carreira na liga.

Opinião

O futebol americano é um esporte onde não dá para somente para uma pessoa cuidar de tudo. Tão coletivo como é, ainda sim, necessita de alguém que possa liderar, tanto no campo, na sideline e nos bastidores. Minha percepção é que a NFL vai sempre por um caminho, o College para outro e o High School outro.

Por mais que seja o mesmo esporte, com quase todas as mesmas regras, a administração de cada um é bem diferente. Um jogador com 16, 17 anos será diferente quando tiver 21,22 e muito mais quando se aproximar dos 30. Por que digo isso? Porque quem irá trabalhar com eles também precisam agir de uma forma diferente.

Além da estrutura das escolas serem diferentes das universidades e dos times profissionais, há outros fatores que influenciam em um HC. São cargos com os nomes iguais, porém, com responsabilidades distintas. É por isso que é natural, para mim, ver alguém sucedido no universitário não dar certo no profissional e vice-versa, é assim com os jogadores e porque não seria com os treinadores?

O maior erro são dos times que não identificam se tal pessoa tem os atributos necessários para assumir, tal função e não dar o apoio necessário durante essa transição. Claro que há treinadores que simplesmente não conseguem se adaptar e, por esse motivo, vejo um futuro com menos intercambio entre esses dois mundos e mais sucessão de quem já está nele.

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