Quebrando o mito: os Rams ligam, e muito, para o Draft

by João Gabriel Gelli

O Los Angeles Rams conquistou o troféu Lombardi em 2022 e consagrou uma metodologia diferente para montar seu elenco. O general manager Les Snead e o treinador Sean McVay nunca tiveram medo da agressividade. Ficaram conhecidos pela vontade de trocar escolhas altas de Draft, especialmente de primeira rodada, por veteranos que pudessem ajudar a ganhar um título.

Quando um time é campeão ou demonstra sucesso prolongado, é normal que suas abordagens passem a ser reproduzidas por outros. A NFL não é conhecida como uma liga de cópias à toa. Existem diversos exemplos que apontam para isto ao longo da história, seja em táticas, filosofias de construção de elenco ou até na forma de moldar um jogador. Vivemos em uma constante comparação com o passado e em um ciclo que se retroalimenta em busca de vantagens competitivas que levem ao objetivo maior: o título.

No entanto, quando se fala sobre o processo dos Rams, é normal que exista uma visão – equivocada – de que pregam um desapego com o Draft. Contudo, tudo o que diz respeito ao caminho trilhado por Snead e McVay mostra que os dois valorizam o recrutamento. A diferença é que alocam seus recursos de maneira diferente.

Como chegamos até aqui

Snead foi contratado em 2012 pelo então Saint Louis Rams para reformular a equipe. Como seu treinador na época, trouxe Jeff Fisher. O time não teve sucesso neste período, com nenhuma classificação para os playoffs em 5 temporadas. Precisando reestabelecer os Rams como marca após a mudança para Los Angeles, Snead recebeu a confiança do dono Stan Kroenke. A partir desse momento, começou uma nova etapa na trajetória da franquia.

O ponto chave dessa era foi a contratação de McVay como treinador em 2017. A diferença foi imediata. Nos cinco anos desde então, os Rams tiveram campanhas positivas em todas as oportunidades. Um salto de 39% de vitórias no regime anterior para 68% no atual durante a temporada regular. Com McVay no comando, foram quatro classificações para os playoffs. Em duas delas, o time chegou ao Super Bowl, culminando com o título na última temporada. Com isso, fica o questionamento sobre o que a franquia faz de diferente e como produz elencos tão competitivos.

A busca por estrelas

Em linhas gerais e de forma simplista, pode-se resumir que os Rams adotam uma abordagem de buscar estrelas em trocas com suas escolhas de Draft, especialmente as de primeira rodada, e na Free Agency.

Embora um elenco da NFL seja composto de 53 jogadores, ele tem diferentes camadas. No topo, estão os talentos que fazem a diferença e são responsáveis por vitórias e derrotas. Entre eles, o ideal é que estejam atletas das chamadas posições premium (QB, OT, EDGE, CB).

Depois, estão os jogadores titulares que realizam suas funções em bom nível, mas não elevam o patamar do time por conta própria.  Em seguida, vêm as peças de rotação, que exercem algum papel de forma relevante e, por isso, garantem snaps. Por fim, estão os reservas e especialistas.

Dentro desta estrutura, os Rams aprenderam a fazer grandes investimentos e não poupar esforços para melhorar no topo da pirâmide. Isto é refletido no fato de que a equipe não fez nenhuma escolha de primeira rodada desde 2016. Na ocasião, Snead trocou para subir no Draft e selecionar Jared Goff no topo da classe. Depois deste momento, as outras escolhas da rodada inicial foram trocadas por jogadores veteranos para elevar o patamar da equipe.

Em 2017, Snead trocou uma escolha de segunda rodada pelo WR Sammy Watkins. Também contratou o LT Andrew Whitworth e o WR Robert Woods na Free Agency. Neste ponto estava clara a intenção de fortalecer o sistema de apoio para Goff e os dois últimos foram jogadores muito valiosos de toda esta era da franquia.

No ano seguinte, foi a vez de mandar uma primeira rodada pelo WR Brandin Cooks, uma segunda de 2019 junto com uma quarta de 2018 pelo CB Marcus Peters e uma quinta rodada pelo CB Aqib Talib. Na Free Agency, contrataram o iDL Ndamukong Suh. Durante a temporada, o time também trocou pelo EDGE Dante Fowler. Desta vez, já com um ataque mais formado foi a vez de investir na defesa. Esta equipe chegou ao Super Bowl e ajudou a validar a estratégia.

Todavia, 2019 não foi um ano de tanto sucesso. Foi a única temporada em que os Rams ficaram fora dos playoffs na era McVay até hoje. Contudo, uma das trocas mais relevantes aconteceu durante esta campanha. Peters e Talib deixaram a equipe e Snead mandou duas escolhas de primeira rodada para os Jaguars em troca do CB Jalen Ramsey. Uma super estrela em uma posição premium adquirida a partir de amplo capital de Draft. A metodologia dos Rams em sua essência.

Já 2020 foi um ano mais calmo, sem grandes movimentações. Também é necessário saber esperar as oportunidades aparecerem e foi isto que aconteceu em 2021. Goff já tinha provado que não seria capaz de elevar o time, então era preciso buscar um novo QB. Foi neste ponto que entrou Matthew Stafford. Para adquirir o então quarterback dos Lions, Snead enviou duas escolhas de primeira rodada e Goff, além de complementos. Além disso, vendo uma janela aberta para o título durante a temporada, o GM aproveitou e trocou escolhas de segunda e terceira rodadas pelo pass rusher Von Miller e assinou com o WR Odell Beckham Jr, que estava livre no mercado após ser cortado pelos Browns.

Com esta linha do tempo, é possível perceber que os Rams estavam dispostos a jogar um jogo que as outras franquias não costumam participar. A maior parte da NFL tem a filosofia de acumular capital de Draft, especialmente nas rodadas iniciais, e investir em talento jovem para dar continuidade ao elenco. Posteriormente, se paga para manter os bons jogadores que foram escolhidos. Snead resolveu tomar outra abordagem e utilizar suas escolhas para adquirir talento já comprovado. Dessa forma, reduziria o risco de equívocos na tomada de decisão e preencheria o topo do elenco com as estrelas que eram necessárias para complementar Aaron Donald, que já estava no time.

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