A evolução de Josh Allen na atual temporada

by Daniel Silva

Sinceramente, para mim, é muito gratificante ver um jogador queimar a língua de todos ao se tornar um grande atleta profissional, quando as previsões desses especialistas não demonstravam que assim seria. Josh Allen está contrariando os fãs do esporte, os analistas esportivos e os executivos da NFL (dos outros times sem ser de Buffalo, claro) ao ter uma grande temporada até o momento, sendo peça fundamental na campanha de 9-3 dos Bills. No Draft de 2018 quando ele foi escolhido tão cedo na primeira rodada, eu fui o primeiro a dar muita risada e desejar tudo de ruim para a franquia de Buffalo, já que na minha análise (e inclusive na análise do On the Clock na época) se tratava de uma pick muito ruim e de um jogador que não estava nenhum pouco preparado para ser um franchise quarterback na NFL.

Saindo da Universidade de Wyoming, ele tinha poucas vitórias na carreira universitária, contra um nível de competição baixo (jogou na MWC), tinha sérios problemas de accuracy e de tomadas de decisão. O que o fez ser escolhido tão cedo foi o que todos os scouts old school ficam malucos quando veem: tamanho e braço forte. Allen foi draftado para ser o franchise QB dos Bills baseado no canhão que tem no braço, no seu tamanho (6-5, 237) e na possibilidade de o seu teto ser muito alto.

Em seus dois primeiros anos na liga, tais preocupações em relação a seu jogo se concretizaram e meus olhos chegavam a brilhar, pela simples vaidade de estar certo em minha análise. Em 2018 e 2019, ele teve a pior marca em completion percentage na NFL, com 52.8% e 58.8% respectivamente. Em seu ano de calouro teve um rating de 67.9, e, apesar de em 2019 ter mostrado melhora na relação TD-INT e ter passado para mais de 3000 jardas, o ano de 2020 era uma incógnita e ninguém esperava que ele passasse para uma próxima etapa de sua carreira. Para todos ele seria para sempre o QB que vimos na temporada de 2019.

Ocorre que, esse ano começou e o camisa 17 era um novo jogador. Teve um início de temporada avassalador: foi o pleno responsável por Buffalo iniciar 4-0, foi o primeiro jogador na história a lançar para pelo menos 1000 jardas, 10 TDs e correr para mais 2 nas primeiras 3 semanas da temporada e tal ritmo e tal padrão de atuações se mantiveram ao decorrer do ano. Em 12 jogos, ele é o quinto na NFL em jardas lançadas, é o único QB com dois jogos de 400 jardas, lançou para mais de 300 jardas em metade de suas partidas, tem 3 jogos com 4 TDs lançados (sendo que dois foram vitórias seguidas, contra duas defesas top 5 da NFL, Dolphins e Rams), já possui mais jardas lançadas do que o ano passado inteiro e continua tendo seu impacto no jogo terrestre, já registrando 6 TDs corridos.

O plantel ofensivo que o cerca

Josh Allen não tem mais que se virar no pocket enquanto espera que Robert Foster, Zay Jones e companhia se desmarquem de seus marcadores, agora o camisa 17 possui grandes playmakers à sua disposição: o melhor route runner da liga em Stefon Diggs, um dos melhores slot receivers em Cole Beasley, um bom WR em John Brown (que teve mais de 1000 jardas no ano passado) e um bom jogo corrido com Singletary e o calouro Moss.

Com um corpo de receivers tão bom, o coordenador ofensivo Brian Daboll, não precisa mais por o peso da responsabilidade de fazer as jogadas terem sucesso todo em Allen. Não há mais a necessidade dele resolver toda santa jogada. Basta ver a maneira com que jogam agora, Allen teve pelo menos 30 tentativas de passe em 9 jogos, e os Bills utilizam 10 personnel em uma porcentagem de jogadas muito maior do que nos anos anteriores, ora, agora eles possuem talento para tanto. Ou seja, agora o ataque de Buffalo permite que seus receivers, running backs e tight ends contribuam no sucesso da jogada e facilitem a vida de seu quarterback.

A grande melhora no seu accuracy e sua mecânica

Algo que não existia em seu jogo, agora existe: lançar a bola com antecipação. Ter um canhão no braço, muitas vezes é o que condena os quarterbacks, porque sempre pensam que vão poder compensar leituras tardias ou jogadas que simplesmente não deram certo com uma bola forçada. Allen fez muito isso nos dois anos anteriores e, mesmo que ano passado não tenha resultado em muitos turnovers, resultou na sua baixíssima porcentagem de passes completos.

A melhora nessa faceta de seu jogo é mais evidente ainda em rotas que atravessam o campo ou que terminam na sideline. No lance abaixo, por exemplo, na semana 1 contra os Jets, em uma crossing route, o camisa 17 lança a bola no ponto futuro para Diggs com um touch incrível, colocando seu receiver em uma posição onde não havia ninguém na marcação (minuto 1:20).

A grande evolução que estamos vendo de Allen é fruto de seu trabalho, pois as ferramentas físicas já estavam ali, bastavam ser guiadas e utilizadas o melhor possível. Sua mecânica melhorou imensamente. Agora ele sempre tem controle em seus lançamentos, sua base é mais firme, mais justa e ele não mais desperdiça movimento em seus lançamentos. Sua capacidade de lançar com antecipação vem de seu esforço, de seu trabalho na offseason.

Por fim, outro ponto de destaque é sua accuracy fora do pocket. O que antes era uma preocupação, agora com seu amadurecimento é um ponto forte de seu jogo. Sua capacidade de processar as rotas de seus receivers enquanto escapa da pressão do pass rush é outro trunfo de sua preparação na offseason.

Afirmo, com certeza, nessa temporada Josh Allen vem sendo elite. Queimou minha língua e da maioria dos fãs e analistas do esporte. É um caso raro, e espero que se repita mais vezes na NFL, pelo bem do jogo que tanto amamos.

 

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