Um quarterback que bateu o recorde da SEC de mais jogos seguidos com pelo menos 4 TDs lançados pode não estar no Top 5 de prospectos de QBs para o Draft do ano que vem. Esse é o nível de competição que existe nessa posição nos dias de hoje e essa é a mágica do mundo do scouting. Tal jogador se trata de Kyle Trask, o senior da Universidade da Florida. Com uma temporada absurda até agora, se encontra na corrida pelo Heisman e em posição de levar os Gators para os Playoffs.
Em 5 jogos, Trask já tem 22 TDs em 182 tentativas de passe, o que dá aproximadamente 1 TD lançado a cada 8 passes! E em seu currículo agora tem uma vitória maiúscula contra Georgia (jogo no qual para variar ele lançou 4 TDs). O senior é imponente e apresenta o tamanho ideal para a posição – 6-5, 240 – entretanto, possui facetas de seu jogo que o trazem um pouco para baixo no escopo geral de preparação para o Draft.
Algo muito curioso de se pontuar, e que para os scouts mais old school e tradicionais acaba que faz diferença, é o fato do camisa 11 não ter sido titular no high school. Foi reserva de D’Eriq King e por uma série de acontecimentos, conseguiu mostrar seu talento para o coordenador ofensivo dos Gators na época e assim, conseguiu sua bolsa. Ainda assim, chegando em Gainesville, não foi titular de primeira e novamente foi banco para outro QB, Feleipe Franks. Contudo, o futuro sempre nos reserva caminhos imprevisíveis, e hoje Trask é um QB melhor que os supracitados e é um melhor prospect para o Draft de 2021 que ambos.
Habilidade Atlética
Tem um histórico de lesões no pé, o que o tirou das temporadas de 2016 e 2017. Possui habilidade atlética interessante para seu tamanho. Não é rápido mas é ágil e tem movimentação inteligente e é muito forte. As poucas corridas desenhadas para ele, as speed options, read options, usam seu tamanho como trunfo (1.96m, 108kg). Um ótimo exemplo é o lance abaixo contra South Carolina na semana 2 (Minuto 3:53)
Precisão
Por mais que tenha um braço não tão forte, Trask possui uma excelente antecipação e lança a bola onde somente o receiver consegue pegar (executa perfeitamente back shoulder throws). Lança sempre antes do receiver sair de seu break e em um ponto onde ele é induzido a ganhar separação de seu marcador. Sua precisão é impressionante e é o carro chefe de seu jogo, já que a parte final de sua mecânica e a falta de força no passe o atrapalham no gameday.
This is exactly why Kyle Pitts and Kyle Trask are worthy of a first round pick pic.twitter.com/KWy7OpdFDf
— Ty Ri (@SMiLEY_RiLEY_15) November 7, 2020
Força no Braço
Trask não possui a mesma força no braço que os outros prospectos para o Draft do ano que vem. Sua tape não tem lançamentos espetaculares que saltam aos olhos. A bola sempre sai em uma linda espiral, mas o lançamento é sempre comum, fraco. O TD longo para Kyle Pitts na semana 1 contra Ole Miss é um dos vários exemplos em que ele foi muito accurate – como sempre – mas o TE teve que esperar a bola chegar, parando em sua rota. O senior não lançou no ponto futuro e não teve força lançar a bola no espaço livre.
Presença no Pocket
É um general dentro de campo e apresenta tranquilidade imensa dentro do pocket. Sempre com os olhos downfield se movimenta e navega no meio da pressão do pass rush sem se afobar. Seu tamanho, obviamente, o ajuda muito em tal habilidade, no entanto, essa capacidade é mental, se trata de algo mentalizado e exercitado constantemente pelo QB.
Florida QB Kyle Trask (22 TD’s through 5 games)
— Athletic enough to maneuver the pass rush
— Delivers without proper throwing base
— Ball placement on tight windows and passes to contested receivers pic.twitter.com/hBp1ViMRto— Brad Kelly (@BradKelly17) November 10, 2020
Red Flags em seu Jogo
Seus lançamentos longos tem um touch incrível, precisão grande em crossing routes e corner routes, mas não tem zip algum na bola. A junção de um braço não tão forte e uma mecânica estranha na parte final do movimento (o braço vai muito de cima para baixo) faz com que seus passes demorem para sempre para chegar no alvo, inclusive em passes curtos. A analogia que consigo fazer ao assistir seu tape é a com alguém que quer ter 100% de certeza que irá acertar determinado alvo, então lança a bola com o maior cuidado possível SEMPRE. No entanto, na NFL essa falta de velocidade no passe não será vista com bons olhos. Essa INT lançada contra Texas A&M, mas que para sua sorte não valeu, demonstra bem o narrado acima. (Minuto 2:52)
https://www.youtube.com/watch?v=kbvoC_JqtyQ
Com uma mecânica que não o permite empenhar velocidade em seus lançamentos e um braço não tão forte, não consegue compensar leituras tardias e não consegue empurrar a bola em determinadas janelas. (Minuto 12:33)
O camisa 11 também força muito a bola em alvos pré determinados. Muito inconsistente no que tange a boa progressão de leituras nas jogadas e bolas forçadas para seus playmakers. Dois lances me saltaram aos olhos: contra Texas A&M, no 2º quarto, em um play action bootleg, tinha seu RB livre no flat e que se recebesse a bola trotaria para a endzone, no entanto, forçou um passe para o outro lado do campo tentando forçar a bola no seu playmaker, Kyle Pitts, mas não teve força para fazer tal lançamento, além de que o TE estava bem marcado (mas realmente, pouquíssimos QBs fariam tal lançamento com sucesso) (Minuto 1:53); e contra Georgia, no lance da pick six de Eric Stokes.
https://www.youtube.com/watch?v=kbvoC_JqtyQ&t=176s
This is all ugly from Florida. Receiver ruins this play and Kyle Trask tries to force it anyway. Great eyes and finish from Eric Stokes. pic.twitter.com/nljEL0RnsK
— Bobby Football (@RobPaulNFL) November 7, 2020